Abertura da CPI da COVID é marcada por discussões e traição

Por Sérgio Ferreira 28/04/2021 - 08:51 hs

Por: Sérgio Ferreira

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar as ações e omissões do governo federal durante a pandemia de COVID-19 no Senado teve sua primeira sessão nesta terça-feira (27/4). A reunião foi marcada por discussões, reviravoltas e insatisfação por parte dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), especialmente após a confirmação de Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI. 

Omar Aziz (PSD-AM), senador do Amazonas – estado que sofreu um colapso no sistema de saúde marcado pela falta de oxigênio – foi eleito presidente da comissão. Para vice, foi escolhido o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Em um discurso forte, Renan Calheiros garantiu que a CPI será despolitizada: “Não somos discípulos nem de Deltan Dallagnol nem de Sergio Moro. Não arquitetaremos teses sem provas ou powerpoints contra quem quer que seja. Não desenharemos o alvo para depois disparar a flecha”.

O senador deixou claro que o foco da CPI será a gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Segundo ele, “guerras se enfrentam com especialistas”. "Militares nos quartéis, médicos na Saúde. Quando se inverte, a morte é certa”, pontuou Renan.

A eleição de Aziz já era esperada, pois senadores opositores e independentes somam sete dos 11 titulares da CPI.

A surpresa ficou com o apoio do senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos quatro senadores aliados de Bolsonaro que integram a comissão. Com isso, Aziz recebeu oito votos e o candidato bolsonarista, senador Eduardo Girão (Podemos-CE), apenas três.

A reunião foi aberta às 10h e, por duas horas e meia, houve debates entre os parlamentares. Enquanto a base aliada questionou a possível indicação de Renan, a oposição afirmou que o senador não pode ter limitadas suas prerrogativas parlamentares.

Na noite dessa segunda-feira (26/4), a Justiça Federal em Brasília chegou a conceder liminar atendendo a pedido da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), para suspender a eventual escolha de Renan para relator.

A Mesa do Senado recorreu, e o Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), com sede em Brasília, derrubou a decisão.

Palavra do presidente

Durante o discurso de eleição, Aziz prometeu um "trabalho técnico" que buscará "a verdade". "Esta CPI não pode servir para se vingar de absolutamente ninguém. Esta CPI tem que fazer justiça para milhares de órfãos que esta pandemia está deixando", disse.

Segundo o senador, a CPI não fará “milagres”, mas pode dar um norte ao tratamento e estabelecer um protocolo nacional. “Descobrir coisas que deixaram de ser feitas e por quem deixou de fazer, seja ele ministro, assessor, governador ou prefeito desse país", destacou.

Defesa Bolsonarista

Flávio Bolsonaro foi o responsável pela principal defesa do governo federal na sessão que inaugurou a CPI da COVID.

Embora não seja membro da comissão, o filho do presidente Jair Bolsonaro atacou o relator da investigação, a quem acusa de parcial, e criticou até o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), chamado por ele de "irresponsável" e "ingrato".

O senador do DEM foi eleito para o comando da Casa, em fevereiro, com ajuda do Palácio do Planalto.

Flávio Bolsonaro foi o responsável pela principal defesa do governo federal na sessão que inaugurou a CPI da COVID.

EM