Por: Sérgio Ferreira
A lÃder quilombola Bernadete
PacÃfico, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada na noite desta
quinta-feira (17) a tiros dentro do terreiro que comandava em Simões
Filho, na região metropolitana de Salvador.
Ela era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Era ialorixá e mãe de Flávio Gabriel PacÃfico dos Santos, o Binho, lÃder assassinado há 6 anos.
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que dois homens,
usando capacetes, entraram no imóvel da vÃtima e efetuaram disparos com
arma de fogo. As polÃcias Militar, Civil e Técnica da Bahia iniciaram as
diligências e a perÃcia no local para identificar os autores do crime.
A Conaq repudiou o crime em nota divulgada nesta quinta. "Sua
dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da
história de seu povo será sempre lembrada por nós", diz o texto. "Sua
ausência será profundamente sentida. Seu espÃrito inspirador, sua
história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e à s
gerações futuras".
Segundo a organização, a morte de Binho não foi elucidada e Bernadete
atuava para solucionar o caso. "Enquanto lamentamos a perda dessa
corajosa liderança, também devemos nos unir em solidariedade e
determinação para continuar o legado que ela deixou", diz a Conaq.
Na nota, a organização cobra do governo medidas imediatas para a
proteção dos outros lÃderes do quilombo de Pitanga de Palmares e uma
investigação rápida para encontrar os responsáveis pelo crime.
O ministro Silvio Almeida determinou o deslocamento de equipes do Ministério dos Direitos Humanos para Simões Filho e expressou solidariedade aos familiares e à comunidade.
Nas redes sociais, a conta do ministério fez uma postagem cobrando rapidez na investigação e punição do crime.
Carregando post do Twitter
O Ministério da Igualdade Racial
também enviará uma comitiva para reunião com órgãos governamentais da
Bahia, atendimento aos familiares de Bernadete e proteção ao quilombo.
Outro providência será a convocação de uma reunião extraordinária do
Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Religioso, para que
providências sejam tomadas no âmbito interministerial.
"O ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas
de matriz africana não são pontuais. Mãe Bernardete tinha muitas lutas, e
a luta pela liberdade e direitos para todo o povo negro e de terreiro
tranversalizava todas", diz nota do ministério.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues
(PT), disse que recebeu com indignação a notÃcia sobre o assassinato e
determinou que as polÃcias Militar e Civil desloquem-se para o local e
"sejam firmes na investigação".
Segundo ele, o governo está empenhado no acompanhamento do caso e no apoio à famÃlia e à comunidade.
Carregando post do Twitter
"Deixo
aqui meu compromisso na apuração das circunstâncias", afirmou. "Não
permitiremos que defensores de direitos humanos sejam vÃtimas de violência em nosso estado".
Outros polÃticos baianos lamentarem a morte da lÃder e pediram
justiça. O deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) afirmou ter recebido
a notÃcia com tristeza e indignação.
"O governador Jerônimo Rodrigues tem que determinar investigação
rigorosa desses crimes abomináveis, que não podem ficar impunes. Uma
perda dolorosa e irreparável", afirmou a deputada estadual OlÃvia
Santana (PCdoB-BA).
A vereadora Marta Rodrigues (PT), de Salvador, pediu rigor nas investigações.
"Precisamos nos indignar coletivamente. Não podemos aceitar a morte
de uma grande defensora de direitos humanos Quem matou Bernadete e a
mando de quem?", perguntou a cantora Daniela Mercury.
O Instituto Marielle Franco também divulgou nota pedindo uma investigação rápida e responsável do assassinato da lÃder, uma mulher negra e ialorixá.
Folha São Paulo