Por: Sérgio Ferreira
Caiu Raio no deserto. O Brasil venceu a SuÃça por 1 a 0, com golaço de Casemiro, garantiu-se nas oitavas da Copa do Mundo
e respirou aliviado. Mas foi um sufoco. Sem Neymar, sentiu a falta de
alguém que pudesse chamar o jogo de seu. Até que Tite colocou um dos
caçulas da Seleção Brasileira. Rodrygo, 21 anos, mudou a cara do jogo que parecia fadado ao empate.
Parecia que a Seleção ganharia a partida no ônibus. Eu, se fosse um
daqueles recatados jogadores da seleção da SuÃça, já teria entregue os
tacos antes mesmo de a partida se iniciar.
O ônibus do Brasil estacionou no 974 Stadium, Tite e sua comissão
desceram. Os jogadores seguiram lá, batucando, dançando e cantando samba
de estremecer o metal dos contêineres do 974. A câmera da transmissão
interna da Fifa se fixou na roda do ônibus e nos amortecedores
trabalhando, tamanha era a festa brasileira lá dentro.
Todos os jogadores desceram rindo, se abraçando. Pronto, pensei. Não vai
sobrar suÃço nesta noite aqui em Doha. Só que a seleção suÃça, a essa
altura, estava no vestiário, concentrada e decorando todos os movimentos
para anular o Brasil. E como decoraram. Eles jogaram com uma precisão
que só os relógios do paÃs deles têm.
Murat Yakin trocou extrema por meio-campista e montou 4-1-4-1 que
formava barricadas na área. Quando Vini pegava na bola, um suÃço partia
faminto para cima dele. Se a bola passava, ele ficava. Malvadeza com o
Malvadeza. Do outro lado, Raphinha gingava sua fina perna esquerda,
negaceava e levava alguma vantagem. O problema, porém, estava no meio.
Tite optou por Militão e, com isso, Brasil ficou com quatro jogadores de
caracterÃsticas mais defensivas, já que Alex Sandro sai menos do que
Danilo. Casemiro também saÃa de forma menos aguda. Fred até se
movimentava, buscava, mas com aceleração, não com jeito. Como Paquetá se
enfiava entre os suÃços, faltava armação. Faltava Neymar, a essa altura
numa maca do hotel, tratando o tornozelo.
Assim, o primeiro tempo foi de bocejar. Os suÃços estacionados na frente
da sua área, os brasileiros embretados, e o samba aquele foi
diminuindo. A torcida, que havia começado frenética atrás do gol de
Alisson, também foi amornando, amornando, amornando até que restou um
único tantan tocando sozinho. Foi triste até de ver.
A única chance do Brasil veio em um
lance iniciado e finalizado por Vini. Ele roubou a bola do lateral,
tocou para Casemiro, ela rodou e chegou em Raphinha. O cruzamento
conectou as duas pontas, e Vini arrematou, livre, mas mal. Os suÃços
pouco ameaçavam.
Tentavam em
lançamentos, sempre interceptados por um Marquinhos soberbo. O que
fazia o jogo ser quase que todo de jogadas para os lados. Ficou tão
monótono que alguém pescou sentado na sala de comando e bateu no
interruptor. A luz do estádio apagou e, dois segundos depois, voltou.
Mas isso foi insuficiente para tirar o Brasil da letargia. Foi quando
Tite decidiu colocar Rodrygo para aquecer.
Segundo tempo teve a marca do Raio
O
Brasil voltou do intervalo já com o guri do Real no lugar de Paquetá.
Não é de graça que o chamam de Raio. Ele animou o time. Aos cinco, ele
passou pelo meio de dois suÃços, e um deles, Rieder, acertou-o no rosto.
Levou amarelo.
Depois, Rodrygo dominou a bola confiante e virou para Richarlison. A
torcida se animou, elevou o tom do seu samba. O jogo ganhou vida de
novo, só que também animou os suÃços. Numa invertida de bola, aos sete,
Widmer cruzou livre, e a zaga bloqueou o chute. Depois, Alisson saiu com
os pés e, por pouco, Embolo não bloqueou.
Os suÃços começaram a chegar com algum
perigo e até rondaram a área brasileira. AÃ, apareceu o Raio. Em um
lance casual, o Brasil saiu meio arrevesado de trás. Richarlison ganhou a
disputa, Rodrigo acionou Casemiro, que acionou Vini. Do pé dele foi
para a rede. Porém, a supermáquina do VAR flagrou impedimento de
Richarlison na origem. Gol anulado, festa em vão.
Tite
mudou. Colocou Antony e Jesus. Yakin trocou peças e colocou um volante
para fechar o lado. Passou para o 4-4-2, com todos da intermediária para
trás. O Brasil tinha a bola, mas não ameaçava. O cronômetro da placa hi-tec
do 974 Stadium parecia acelerado. Eram 38 do segundo, e o Brasil não
havia chutado a gol no segundo tempo. Mas se lembram do Raio?
Ele caiu no mesmo lugar, no deserto, onde só tem tempestade de areia.
Marquinhos tocou Vini, que tocou para ele. Em um toque rápido, de
costas, achou Casemiro. O chute saiu fatiado, bonito de ver. A bola
roçou na nádega direita de Akanji, o suficiente para entrar e desafogar o
Brasil. Essa triangulação saiu muitas vezes no Real. Nos salvou agora,
de amarelo.
Era o 1 a 0 do desafogo, da vaga antecipada. O 1 a 0 das novas caras do
Brasil, mescladas com a experiência de um Casemiro. A partir daÃ, o
samba voltou. Os contêineres do 974 pareciam dançar junto com a batida
dos brasileiros. A noite em Doha estava só começando. Nos vemos de novo
na sexta, mas já com o olho e a vaga garantida nas oitavas.
GZH