Anvisa autoriza estudo de terceira dose da AstraZeneca e 'nova cloroquina' defendida por Bolsonaro

Por Sérgio Ferreira 19/07/2021 - 21:47 hs
Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo/07-06-2021
Anvisa autoriza estudo de terceira dose da AstraZeneca e 'nova cloroquina' defendida por Bolsonaro
Gabriel de Paiva/Agência O Globo/07-06-2021

Por: Sérgio Ferreira

BRASÍLIA — A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta segunda-feira a realização de um estudo para avaliar a segurança e a eficácia da terceira dose da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19. Também nesta segunda, a agência deu aval a uma pesquisa para avaliar a eficácia do medicamento proxalutamida contra o novo coronavírus. O presidente Jair Bolsonaro defendeu no domingo uma avaliação sobre o remédio.

A pesquisa sobre vacina é uma extensão do estudo original da AstraZeneca no Brasil, que seria finalizado ao completar um ano. Agora, aos mesmos voluntários que tomaram a segunda dose há entre 11 e 13 meses será ofertada uma terceira. Um mês depois, essas pessoas passarão por nova avaliação e o estudo será concluído.  

Participam os mesmos seis centros de pesquisa do estudo original. Todo voluntário que vem sendo acompanhado é elegível, desde que não seja gestante, puérpera, não tenha tomado outra vacina e nem tenha Covid. Esse subgrupo deve ser formado por 4 mil voluntários.  

— O objetivo é gerar dados científicos para que os governantes tomem decisões sobre a estratégia de vacinação futura baseadas em evidências — afirma a diretora do Grupo de Vacinas de Oxford no Brasil e coordenadora dos testes clínicos da fórmula da AstraZeneca no país, Sue Ann Costa Clemens. — Há governos adotando uma terceira dose sem saber se é seguro ou se vai aumentar a proteção.  

Ela explica que, por enquanto, as duas doses da vacina são suficientes para proteger contra as variantes conhecidas no mundo.  

— Precisa de terceira dose? Para cepas circulantes não precisa. Mas a situação epidemiológica é muito instável, vemos o aparecimento de novas variantes toda hora. Quanto mais dados gerarmos para as situações que estão por vir, melhor.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta segunda-feira as discussões sobre terceira dose neste momento e afirma que o assunto leva "insagurança" à população.

— Nós não conseguimos avançar ainda em 100% da população com a primeira dose da vacina. Qual é a evidência científica disponível que nós devamos falar de uma terceira dose? Isso só leva mais insegurança para a população. 'Ah vou precisar tomar uma terceira dose agora'. Entao quando nós dissermos isso à população, é necessário ter uma evidência científica sólida inclusive como nós devemos fazer. Por exemplo se é com o mesmo imunizante, se vamos usar intercambialidade, se é só um reforço ou se nós precisamos aplicar duas doses. Então por isso que eu tenho sempre feito um apelo a todos os gestores para que nós sigamos a decisão do Programa Nacional de Imunização —  afirmou.

Proxalutamida

Já o estudo da proxalutamida será realizado, além do Brasil, em outros seis países: Alemanha, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, México e Ucrânia. No Brasil serão 50 voluntários, sendo 38 em São Paulo e 12 em Roraima. 

O estudo é patrocinado pela empresa Suzhou Kintor Pharmaceuticals, sediada na China. A Anvisa não divulgou o número total de voluntários.

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No domingo, após ter alta do hospital no qual estava internado em São Paulo, Bolsonaro afirmou que iria cobrar do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um estudo sobre a proxalutamida, que segundo ele já estaria sendo utilizada contra a doença em outros países.

De acordo com o blog da colunista Malu Gaspar, estudo conduzido sobre o medicamento apresenta indícios de fraude e falhas graves.

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Em abril, Bolsonaro já tinha citado a proxalutamida, fármaco fabricado na China e estudado para o tratamento de câncer de próstata e de mama. Desde o início da pandemia, o presidente já defendeu diversos medicamentos sem eficácia comprovada.

— (A proxalutamida) É uma droga que está sendo estudada e que em alguns países têm apresentado melhora (dos pacientes de Covid-19). Existe no Brasil de forma não ainda comprovada cientificamente, de forma não legal, mas tem curado gente. Vou ver se a gente faz um estudo disso daí para a gente apresentar uma possível alternativa. Temos que tentar. Tem que buscar alternativas e, com todo respeito, eu não errei nenhuma. Até quando, lá atrás, eu zerei os impostos da vitamina D — afirmou o presidente.

Bolsonaro defendeu o uso da cloroquina desde o começo da pandemia, muitas vezes em discursos oficiais. Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que ela não só é ineficaz, mas também traz chance elevada de “efeitos adversos” mas, mesmo assim, o presidente insistiu no medicamento que custou, segundo o próprio governo de R$ 259 mil com os comprimidos. Além disso, documento enviado pelo Ministério da Saúde à CPI da Covid mostra que o governo gastou R$ 23,3 milhões com campanhas de divulgação do chamado tratamento precoce contra Covid, considerado ineficaz por especialistas.