Como o 'não curtir' pode tornar o Facebook mais 'viciante' e 'lucrativo'

Rede social quer atender demanda antiga de usuários com recurso que permite demonstrar 'empatia' por posts de temas tristes ou delicados.

Por Administrador 17/09/2015 - 14:47 hs

<p>"Devo ou n&atilde;o curtir este post?" Quem usa o Facebook provavelmente j&aacute; se perguntou o que fazer diante de uma publica&ccedil;&atilde;o sobre um tema triste ou delicado.</p> <p>O bot&atilde;o de um ded&atilde;o apontado para cima &eacute; um dos recursos mais populares na rede social.</p> <p>N&atilde;o parece, no entanto, ser muito apropriado "curtir" uma mensagem sobre o falecimento de uma pessoa, mesmo que se tenha apreciado o texto em sua homenagem. Ou a not&iacute;cia de uma trag&eacute;dia, ainda que a solidariedade em torno do acontecimento seja louv&aacute;vel.</p> <p>O Facebook est&aacute; tentando resolver esse dilema. Mark Zuckerberg, seu criador e presidente, disse na &uacute;ltima ter&ccedil;a-feira que estuda uma alternativa ao "curtir".</p> <p>"As pessoas pedem isso h&aacute; muito tempo. O que elas querem &eacute; uma forma de demonstrar empatia. Nem todo momento &eacute; um momento feliz", disse Zuckerberg, citando a crise de refugiados s&iacute;rios como exemplo.</p> <p>Por enquanto, o Facebook revelou poucos detalhes deste novo recurso. Zuckerberg apenas explicou que ser&aacute; testado com uma parcela do p&uacute;blico.</p> <p>N&atilde;o se sabe ainda como ser&aacute; chamado - o nome que est&aacute; sendo usado por enquanto nas discuss&otilde;es sobre este novo mecanismo &eacute; o de "n&atilde;o curtir" -, se ser&aacute; um bot&atilde;o, qual ser&aacute; seu s&iacute;mbolo. Se valer&aacute; para todos os posts ou s&oacute; para aqueles de temas mais delicados.</p> <p>Com o "n&atilde;o curtir", Zuckerberg tamb&eacute;m poder&aacute; tornar a rede social mais popular e lucrativa, avaliam especialistas ouvidos pela BBC Brasil.</p> <p>Mas eles alertam para o risco da novidade acirrar ainda mais os &acirc;nimos dos debates e discuss&otilde;es na internet.</p> <p><strong>F&oacute;rmula secreta</strong></p> <p>O "n&atilde;o curtir" significa uma mudan&ccedil;a na alma do Facebook: seu algoritmo.</p> <p>O site tem par&acirc;metros e regras para avaliar o conte&uacute;do publicado e definir o que ser&aacute; exibido para cada usu&aacute;rio.</p> <p>Cliques, publica&ccedil;&otilde;es, curtidas, coment&aacute;rios e compartilhamentos. Tudo que fazemos vira um dado que alimenta esta f&oacute;rmula secreta.</p> <p>O site conhece assim as prefer&ecirc;ncias de cada membro e filtra as publica&ccedil;&otilde;es para exibir o que tem mais chances de agradar ou gerar interesse.</p> <p>O "curtir" tem um peso importante nesta equa&ccedil;&atilde;o desde que foi lan&ccedil;ado, em 2009. Um post com muitas curtidas tem mais chances de aparecer tamb&eacute;m para mais usu&aacute;rios e movimentar ainda mais o Facebook.</p> <p>Mas, enquanto mensurar a rea&ccedil;&atilde;o positiva a uma publica&ccedil;&atilde;o &eacute; relativamente simples, refletir um sentimento como a empatia &eacute; um pouco mais complexo.</p> <p><strong>Lacuna</strong></p> <p>O "n&atilde;o curtir" chega para preencher esta lacuna, dando ao algoritmo do Facebook um novo tipo de informa&ccedil;&atilde;o.</p> <p>"O usu&aacute;rio pode n&atilde;o querer curtir um conte&uacute;do triste, mas &agrave;s vezes faz isso para dizer 'obrigado por ter compartilhado' ou 'sinto muito'", afirma F&aacute;bio Malini, professor da Universidade Federal do Esp&iacute;rito Santo (Ufes) e coordenador do Laborat&oacute;rio de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic).</p> <p>"O 'n&atilde;o curtir' ajudar&aacute; a identificar esse tipo de conte&uacute;do, que n&atilde;o recebe muitas curtidas hoje, mas ainda assim &eacute; relevante. O alcance dele tende a ser maior."</p> <p>Conhecer melhor seu p&uacute;blico tamb&eacute;m pode aumentar a popularidade do Facebook, avalia Marcelo Tripoli, vice-presidente de cria&ccedil;&atilde;o e planejamento para Am&eacute;rica Latina da ag&ecirc;ncia de m&iacute;dia digital SapientNitro.</p> <p>"Ao mostrar cada vez mais o que de fato interessa a algu&eacute;m, o site se tornar&aacute; mais viciante", diz.</p> <p>E lucrativo. O Facebook faturou no ano passado US$ 12,47 bilh&otilde;es (R$ 48 bilh&otilde;es), quase integralmente a partir de an&uacute;ncios.</p> <p>Para que eles fa&ccedil;am sucesso, a rede social os direciona segundo o que aprendeu sobre cada usu&aacute;rio e a inten&ccedil;&atilde;o do anunciante.</p> <p>O "n&atilde;o curtir" ajudar&aacute; a fazer isso de forma mais eficiente.</p> <p>"Eles pretendem tornar a sociedade melhor? N&atilde;o, &eacute; para vender mais an&uacute;ncios. Ao entender melhor o comportamento de um usu&aacute;rio, a publicidade tem mais chances de ter sucesso", diz Malini.</p> <p>F&aacute;bio Marques, gerente de marketing da Scup by Sprinklr, ag&ecirc;ncia de monitoramento de redes sociais para marcas como Tam, Bradesco, Philips e Peugeot, acredita que o novo recurso pode ser &uacute;til para empresas.</p> <p>"Ser&aacute; interessante para medir com mais precis&atilde;o a opini&atilde;o do consumidor", diz Marques.</p> <p>"Hoje, se algo n&atilde;o ganha muitas curtidas, parece que ele desagradou, mas n&atilde;o sabemos ao certo. O 'n&atilde;o curtir' indicar&aacute;, por exemplo, se as pessoas realmente n&atilde;o gostaram de uma campanha ou um produto."</p> <p><strong>Empatia ou &oacute;dio?</strong></p> <p>Apesar destas vantagens e dos pedidos pela nova fun&ccedil;&atilde;o, o Facebook sempre foi cauteloso.</p> <p>At&eacute; o ano passado, Zuckerberg n&atilde;o dava esperan&ccedil;as de que ela viraria realidade.</p> <p>"As pessoas pedem por isso porque querem dizer 'isso n&atilde;o &eacute; bom'. N&atilde;o achamos que isso &eacute; legal para o mundo. N&atilde;o vamos criar algo assim", disse em dezembro, em uma sess&atilde;o de perguntas como a de ter&ccedil;a-feira.</p> <p>Desta vez, ele voltou a refor&ccedil;ar que o objetivo n&atilde;o &eacute; criar uma forma de espalhar &oacute;dio pelo site.</p> <p>"N&atilde;o faria sentido para o neg&oacute;cio da empresa criar um clima de negatividade", diz Marques, da Scup.</p> <p>"No Facebook, colocamos opini&otilde;es e posts que nos representam. Imagine publicar um texto e receber 40 'n&atilde;o curti'. Isso desestimularia as pessoas de usarem o site."</p> <p>Mas a inten&ccedil;&atilde;o do Facebook ao lan&ccedil;ar esta novidade pode n&atilde;o se traduzir na forma como ser&aacute; usada na pr&aacute;tica, diz Malini, do Labic.</p> <p>"As pessoas costumam ter opini&otilde;es mais radicais em redes sociais. Acho dif&iacute;cil o 'n&atilde;o curtir' n&atilde;o ser adotado por quem costuma espalhar o &oacute;dio nelas".</p> <p>"Vai ter quem d&ecirc; um 'n&atilde;o curti' para todo post da Dilma ou do A&eacute;cio. As pessoas poder&atilde;o fazer campanhas contra um tema do qual discorda, como j&aacute; ocorre em outros sites", afirma Malini.</p> <p>"Faz mais sentido ser aplicado somente em certos casos, porque sen&atilde;o pode colocar gasolina na fogueira", afirma Tripoli da SapientNitro.</p> <p>"Estudos j&aacute; mostraram que receber uma curtida gera uma descarga de dopamina e gera prazer. Pense como seria o contr&aacute;rio. Se pudermos dar um 'n&atilde;o curti' para tudo, acho que muitas amizades ser&atilde;o desfeitas."</p>