Abalada, filha de comerciante morto na Ribeira não vai a enterro

Menina de 9 anos saiu de loja momentos antes do pai ser executado

Por Sérgio Ferreira 19/11/2017 - 07:57 hs

A filha de 9 anos do comerciante Ivan Conceição de Jesus, 35, executado com um tiro na cabeça em seu estabelecimento, na Ribeira, na tarde desta quinta-feira (16), estava no local em que o crime ocorreu poucos minutos antes dele acontecer. De acordo com familiares e amigos de Ivan, presentes no sepultamento que ocorreu no cemitério Campo Santo nesta sexta-feira (17), a menina saiu do local para fazer um trabalho da escola em uma lan house pouco tempo antes da ação.

Ainda de acordo com os amigos da família, a filha morava com Ivan e “era unha e carne” com o pai, que foi taxado como um “paizão”. Logo após o ocorrido, ela foi retirada do local. “Saíram com ela de lá, para ela não ver o que aconteceu”, explicou uma amiga da família, que preferiu não ser identificada. A menina está em estado de choque e não foi ao enterro do pai. Ela passará a morar com a mãe.

“Que bom que ela tinha ido fazer o trabalho. Imagine se ela estivesse na loja? Iam matar ela também, porque ela ia ver o rosto deles”, lamentoA contestação e o pedido de justiça foram uníssonos entre os familiares e amigos do comerciante, durante o enterro. “Isso é inaceitável. Nós não sabemos o motivo de tudo isso. Não dá para entender”, disse emocionada uma amiga da família após o sepultamento.

Com uma missa póstuma celebrada por um bispo e dois padres, dentre eles um irmão de Ivan, a religião esteve presente como alicerce da família. A mãe de Ivan, Rita de Cássia, ficou muito abalada durante o enterro, sendo acudida a todo momento por familiares e amigos. A avó do comerciante clamou por justiça. “Se não pagar pela justiça dos homens, paga pela justiça divina. Deus tarda, mas não falha”, diz.

Entenda o caso
Dono de uma loja de celulares, Ivan foi morto com um tiro na cabeça no bairro da Ribeira, em Salvador, na tarde desta quinta-feira (16), em seu estabelecimento. De acordo com a família da vítima, ele estava sendo acusado de passar informações do tráfico para a polícia. Uma mensagem - supostamente compartilhada por traficantes - acompanhada de uma foto do comerciante começou a circular no início da semana no WhatsApp. 

A família diz que Ivan foi abordado por dois homens armados por volta das 16h, dentro da sua loja, na Rua 25 de Dezembro. Os bandidos teriam entrado na loja a pé e executado o comerciante com um único tiro na cabeça. Atingido, a vítima caminhou alguns metros até cair na entrada da loja. 

Ivan foi morto dentro de loja (Foto: Reprodução)

Segundo a Polícia Militar, o comerciante chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Ernesto Simões, mas não resistiu ao ferimento e morreu na unidade médica. A Polícia Civil afirmou que o caso será investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios, mas que não existe linha de investigação ou indícios de autoria e motivação. “A investigação será realizada a partir de depoimentos e outras provas que possam ser conseguidas, como imagens do local”, afirmou a assessoria. Em resposta ao CORREIO, a Polícia Civil afirmou que “a vítima era conhecida por desbloquear celulares de origem duvidosa”.

Para a família, o crime tem relação com a mensagem compartilhada.

"Dias antes da morte, uma mensagem começou a circular dizendo que ele era 'X-9' e que já teria feito muitas mães chorarem. Ele, realmente, tinha muitas amizades com policiais civis, mas era porque ele era dono de uma loja de celular, onde eles (policiais) costumavam ir", conta um dos familiares, sem se identificar.

Segundo a prima da vítima, a bacharel em Direito Layla Santos, 30, Ivan chegou a ver sua imagem no WhatsApp mas, mesmo com as acusações, continuou a ir ao trabalho. "Ele chegou a contar a uma das irmãs. Ainda não tivemos a oportunidade de conversar com ninguém para entender o que teria acontecido", relatou. 

Ivan também morava no bairro da Ribeira, na Rua Aníbal Silva Garcia, na companhia de sua única filha, uma menina de 9 anos. "A filha está em estado de choque. O meu filho morreu trabalhando. Ele não fazia mal a ninguém e era querido por todos. Ele talvez não tivesse acreditado porque não tinha maldade nenhuma", disse a mãe do comerciante, a dona de casa Rita de Cássia Conceição, 57.u uma parente, sem se identificar.